
“Tem mesmo alguma coisa no mundo que obriga o mundo a esperar. ” É com a frase de Adélia Prado 1 , cujas poesias nos guiarão durante todo o evento que ora se apresenta, que iniciamos a carta-convite do nosso II Congresso Brasileiro de Serviço Social e Cuidados Paliativos.
“O que não parece vivo, aduba. O que parece estático, espera. ” Três anos se passaram desde a realização do primeiro evento. Três anos de adaptação pós-pandemia, isolamento social, atendimento a distância e implantação de propostas híbridas. O que em um primeiro momento parecia alternativas à impossibilidade de contato e necessidade de proteção, consolidaram-se como práticas de sucesso. O que parecia não ser possível ou se tornar
insuficiente, revelou-se possível, esperado e agora cobrado.
“A vida é mais tempo alegre do que triste. Melhor é ser”. Ser frente às transformações iniciadas na pandemia e consolidadas nesses anos que a ela se sucedem.
Mudança de paradigmas, de realidade, de formas de realização de serviços e atividades e porque, não, de maneiras de organizar eventos. Sendo assim, adaptando-se à nova realidade, apresentamos nossa proposta de Congresso em formato hibrido para ter conosco quem pode estar perto, mas manter “por perto” quem só pode estar à distância.
“O que a memória ama fica eterno”, nos afirma Adélia Prado. Eternidade é o que buscamos utopicamente naquilo que fazemos com saber, técnica e sentimento. Eterna deve ser a memória do partilhado e vivido com aquele/a que parte, eterna pode ser a lembrança de cuidados e atenção ao final da vida de quem se torna somente memória e sentimento. “Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o
sentimento. ”
A memória de cuidados da família em cuidados paliativos está estreitamente relacionada à atenção obtida durante o tratamento de seu familiar, atenção está direcionada a/ao paciente, mas também aos familiares cuidadores/as. “Muito maior que a morte é a vida. ”
Os cuidados se estendem ao binômio paciente e família, prega a Organização Mundial de Saúde desde a primeira definição de Cuidados Paliativos da década de 90. Por isso o tema do Congresso: “o que a memória ama fica eterno” não só nos remete ao processo de luto dos/das familiares, mas, e, principalmente ao quanto os cuidados paliativos podem e devem influenciá-lo. Influência que esperamos positiva a medida que o cuidado proporcionado foi de excelência
em uma somatória de conhecimento, técnica e compromisso. O que nem sempre encontramos nas equipes que se dizem paliativistas.
Assim, este Congresso também se propõe a apresentar uma crítica às práticas “descoladas” da realidade, aos protocolos inconcebíveis em um pais tão desigual, com diferenças inconciliáveis e com distâncias abissais. Abismo entre ter descoberto uma doença oncológica em um check-up e ter sido encaminhado/a para o tratamento paliativo sem nenhuma proposta curativa pela morosidade do sistema; abismo entre quem pode solicitar o cuidado domiciliar e aquele/a que não tem para onde voltar, realidade da imensa população em situação de rua das grandes cidades; abismo entre aqueles/as muito bem cuidados/as e amados/as por suas famílias e aqueles/as sem vínculo familiar e sem nenhuma possibilidade de reatá-los. É nas extremidades
desses abismos que o/a assistente social sabe transitar com maestria e é o que nos propomos a discutir nesse congresso.
Mas cuidado paliativo é puramente interdisciplinar. Por isso, convidamos profissionais de áreas diversas a compor conosco as discussões.
Por isso, você, profissional de diferentes saberes, que tem interesse em conhecer a visão social do cuidado paliativo também está convidado/a a participar, nas discussões sobre vida e morte que nos propomos a realizar. Como finaliza Adélia: “Na minha terra a morte é minha comadre. (…) A grande tarefa é morrer. –